As Florestas Plantadas de Eucaliptos e a Biodiversidade

14/07/2010 23:27

As Florestas Plantadas de Eucaliptos e a Biodiversidade                      Celso Foelkel

Tenho observado que alguns ambientalistas e algumas ONGs têm procurado atribuir às plantações florestais de eucaliptos (e também para as de Pinus) a denominação de "desertos verdes". Quando fazem isso, estão procurando criar uma imagem para a Sociedade de que essas plantações seriam absolutamente homogêneas, como um monocultivo de uma única espécie plantada e nada mais. Atribuem a essas plantações florestais pouquíssima biodiversidade, tanto em fauna como para a flora. Tenho visto poucas argumentações explicativas sobre o que faz nosso setor de base florestal, apesar da forma séria como vem tratando esse tema da biodiversidade. Por essa razão, decidi escrever esse mini-artigo para mostrar meus pontos de vista sobre a biodiversidade dos sistemas eco-florestais das florestas plantadas de eucaliptos. Muitas dessas argumentações colocadas são válidas também para as florestas plantadas de Pinus. Entretanto, sabemos que nosso universo de empresas florestais é variado. O que comentarei com vocês nesse mini-artigo é com base nas práticas de empresas sérias, que estejam certificadas pelos sistemas de garantia de qualidade ambiental como os sistemas IS0 14001 e pelas certificações florestais FSC e CERFLOR. Essa é a situação da maioria das empresas que se dedicam ao plantio de florestas para fins industriais no Brasil.

Começo por dizer a vocês que discordo completamente da alcunha "deserto verde" que se tem procurado dar a essas plantações. O termo é inadequado e inapropriado. Mostrarei a vocês porque assim considero. Quando alguns procuram criticar nossas plantações florestais, ou o fazem ideologicamente, ou porque conhecem pouco delas e se impressionam com sua pujança fotossintetizadora. Esse verde que se pode ver em uma área de floresta plantada é devido às células vivas das árvores, que realizam uma das mais milagrosas façanhas que a Natureza criou: a fotossíntese. Se o homem conseguisse dominar a fotossíntese, fazendo essa reação simples em escala industrial, teríamos resolvido os problemas de alimentos e de combustíveis no planeta. Com uma reação muito simples, as plantas, entre as quais os eucaliptos, conseguem transformar o gás carbônico pela reação com a água, em carboidratos e oxigênio, e depois podem alterar os carboidratos para proteínas, lipídeos, etc. Portanto, àqueles que foi oferecido o dom de fazer a fotossíntese, não podemos negar que tenha sido uma dádiva divina fantástica. Os eucaliptos são uma das plantas que possuem capacidade recorde de transformar o gás carbônico em células vivas, e muito vivas por sinal. Essas células se multiplicam, crescem e se oferecem para o uso pelo ser humano na forma de óleos essenciais, fibras para papel, madeira para móveis, habitações, lenha, etc. Portanto, o verde das árvores dos eucaliptos nada mais é do que o verde da vida, em todo seu esplendor, vicejando para nos oferecer conforto como sociedade a depender da madeira e de outros produtos de origem florestal para nossas realizações.

A outra parte da expressão "deserto verde", a palavra deserto também necessita de algumas considerações por minha parte. Desertos são, em sua maioria, ecossistemas naturais muito interessantes, ricos em biodiversidade, só que de um outro tipo de biodiversidade. Desertos podem ser resultado ou da falta de chuvas ou da pobreza de seu solo. Mas nem por isso significa que não tenham biodiversidade. É muito conhecido o fenômeno do "deserto florido" na região do Atacama, no Chile. Quando chove mais forte sobre a região árida do deserto, tudo se cobre rapidamente de milhares de plantas que florescem e fornecem uma beleza fantástica da Natureza, algo muito apreciado por todos que já conheceram esse fenômeno de rica biodiversidade botânica. Também a fauna de um deserto é diversificada. Existem insetos, aracnídeos, serpentes, ratos, pássaros, répteis diversos, raposas, cachorros do mato, etc., etc. Uma biodiversidade incrível a encantar qualquer ecólogo. Tenho visitado inúmeras regiões desérticas ao longo de minha vida e sempre me surpreendo com suas belezas e biodiversidade. A Natureza sempre é muito sábia e sempre nos encanta com soluções em biodiversidade, adequadas a cada tipo de ecossistema.

Os ecossistemas das áreas de florestas plantadas também são muito singulares e bastante ricos em biodiversidade. Até mesmo porque a plantação de florestas é feita de forma a compor um rico mosaico eco-florestal, englobando nesse complexo muitos ecossistemas naturais como matas nativas, campos naturais, sistemas lacustres, áreas pantanosas, afloramentos rochosos, etc. Entremeando de forma dispersa nesse mosaico de Natureza, o plantador de florestas localiza as áreas de plantações ou de cultivo do eucalipto. Essas áreas plantadas e cultivadas com os eucaliptos, por felicidade técnica e econômica, são em sua maioria áreas de pastagens degradadas ou locais anteriormente utilizados pela agricultura de forma intensiva. A vegetação rala, o mais baixo preço dessas terras, a topografia e a facilidade de preparação do terreno favorecem a escolha dessas áreas para os plantios. As pastagens são as áreas preferidas para o cultivo, pois a vegetação é rala, resultantes do uso pelo gado de áreas plantadas por anos com capins como o pangola, pensacola, capim sudão, braquiária, anoni, etc. O setor florestal brasileiro de florestas plantadas não derruba de forma alguma matas naturais ou ecossistemas frágeis para plantar florestas. Tampouco usa madeira de matas nativas em seus processos industriais. Pode ter feito isso em passado mais longínquo, quando as realidades ambientais, sociais, legais e agrárias eram distintas do momento atual, onde prevalece a busca da sustentabilidade e uma rígida legislação florestal.

Mesmo em áreas de campo ralo existe uma biodiversidade característica, que precisa ser entendida, monitorada e conservada. O importante é se conhecer então muito bem quais as espécies de fauna e de flora que existem na área a ser plantada com florestas de eucalipto para se planejar melhor o mosaico eco-florestal. Com isso, os impactos podem ser minorados e a fauna e a flora protegidas, ou mesmo, enriquecidas.

O planejamento racional desse mosaico eco-florestal antes do plantio das áreas de reflorestamento permite:

  • Respeitar as áreas de proteção aos recursos hídricos, de forma a minimizar os efeitos negativos sobre a hidrologia da área da micro-bacia onde se dará o plantio florestal;
  • Manter e proteger os recursos naturais e ambientais, protegendo e promovendo a conservação da fauna e da flora. Isso é conseguido através da manutenção, regeneração, preservação e enriquecimento das áreas de preservação permanente (APPs) e áreas de reserva legal (ARLs).
  • Estabelecer corredores ecológicos pela interligação das áreas de preservação permanente através da localização das áreas de reserva legal;
  • Buscar o equilíbrio do complexo eco-florestal de maneira a se ter um mínimo impacto das áreas de florestas plantadas e de inclusive se garantir um ganho ambiental nas micro-bacias onde estarão as áreas de plantações;
  • Monitorar os efeitos ambientais decorrentes da atividade florestal para que os efeitos negativos sobre a qualidade ambiental sejam minimizados;
  • Promover o uso sustentado dos recursos naturais;
  • Projetar e implementar medidas mitigadoras tais como prevenção da erosão, fertilização florestal, localização de estradas, localização das áreas para abrigo da fauna, etc., etc.

O planejamento do complexo eco-florestal visa garantir a capacidade de produção sustentada do sítio florestal, de forma que a atividade possa ser sustentada na região, sem necessidade de migrar de área ao longo do tempo. Ou seja, muito antes de se plantar a floresta, o produtor florestal projeta o seu futuro e busca a sua sustentabilidade no local. Isso envolve o maior equilíbrio do ecossistema, monitoramento de pragas e moléstias, proteção das micro-bacias, garantia da qualidade do solo, prevenção da erosão, manutenção da biodiversidade, melhoramento genético das espécies de reflorestamento para torná-las mais adaptadas às condições da região, etc.

A ciência florestal evoluiu muito no Brasil nos últimos 20 a 30 anos. De uma atividade tipicamente agrícola (plantar a floresta para se colher a madeira), a ciência florestal evoluiu para a implantação de sistemas bem equilibrados e integrados para produção de madeira, outros bens da floresta (mel, óleos essenciais, seqüestro de carbono, etc.), proteção e conservação ambiental, produção de alimentos (sistemas agro-silvo-pastoris) e preservação e enriquecimento da biodiversidade. As florestas plantadas são feitas de forma a se integrar e não para substituir a paisagem, a agricultura, a pecuária e a própria Natureza local. Essa tem sido a lógica das empresas líderes florestais no Brasil nos anos recentes.

Se me perguntarem se isso está em estágio de perfeição, com certeza posso dizer que ainda há muitas oportunidades para melhorias. Nosso processo deve ser de busca contínua de melhoramento, não só da produtividade da área plantada com eucaliptos, mas de todo esse complexo eco-agro-florestal. Observe-se que há uns 25 a 30 anos atrás, ao se plantar uma floresta de eucalipto, o produtor florestal ocupava cerca de 75 a 85% da área com seu reflorestamento, ficando o restante para estradas, benfeitorias e proteção da Natureza. Hoje, essa relação é de 50 a 65% de ocupação com as florestas plantadas. Ou seja, para cada hectare de efetivo plantio, o setor florestal conserva entre 0,6 a 1 hectare de ambientes naturais. Por essa razão, o setor de base florestal pode ser considerado um dos setores que mais conserva e preserva a Natureza no Brasil. Além da conservação, o setor evita a caça e a pesca, previne e combate incêndios, monitora o ambiente e estabelece planos de melhoria contínua. Isso precisa ser melhor visto e entendido por aqueles que criticam o setor sem o requerido conhecimento do mesmo.

É preciso também entender que sempre que temos uma atividade antropocêntrica de grande magnitude, como as plantações de cana-de-açúcar, arroz, milho e florestas de eucaliptos, por exemplo, teremos impactos sobre a fauna e sobre a flora. Sabemos também que o Brasil vem sendo antropizado de forma intensa e que há sérias ameaças à biodiversidade nacional. Todos temos consciência disso e nos preocupamos em "salvar o que for possível salvar". Mas isso precisa ser feito de forma a continuar gerando as condições para o desenvolvimento humano, coisas que devem acontecer simultaneamente de acordo com os conceitos de sustentabilidade. Por essa razão, a necessidade de se planejar muito bem a paisagem, a dispersão dos talhões florestais, as localizações das áreas de proteção ambiental e as plantações em mosaicos eco-florestais. Com o adequado planejamento ambiental das atividades da silvicultura, as chances são de melhorias ambientais e não de "piorias" ambientais, como estarei mostrando a vocês. A introdução de reflorestamentos não vai acabar de forma alguma com a fauna ou com a flora, como se têm colocado por pessoas que conhecem muito pouco do que estou a escrever. Teremos alterações e mudanças, que precisam ser monitoradas, entendidas e estudadas. Os impactos negativos devem ser mitigados ou compensados. Se tivermos mudanças na biodiversidade, é importante saber quais, de que magnitude e como minorá-las.

Algumas recomendações eu gostaria de colocar ao setor florestal, apesar de reconhecer os avanços até hoje já conseguidos na preservação da biodiversidade. Elas são feitas no sentido de maior performance ambiental no que concerne à biodiversidade da fauna e da flora:

• Procurar aumentar ao máximo a área de preservação ambiental, buscando atingir uma relação média de 50%/50%, ou seja, para cada unidade de área efetivamente plantada com eucaliptos, uma mesma área equivalente de preservação ambiental. Essa proporção não tem embasamento científico, é apenas uma forma de se preservar o meio ambiente na mesma proporção em que o utilizamos. Como algumas espécies da fauna podem mudar ou mesmo não desejar viver sob as áreas plantadas com os eucaliptos, temos que oferecer opções a elas para essa migração. Na migração, devemos oferecer espaços adequados para abrigo e alimentação dessa fauna migratória. Há necessidade de um monitoramento para acompanhar essas mudanças. Por outro lado, as plantações atraem outras espécies da fauna, como aquelas que dependem da sombra e de insetos para sua alimentação. Os pássaros são os animais mais atraídos pelas árvores dos eucaliptos. Tanto é importante a presença de aves, desde as de pequeno porte (sabiás, pintassilgos, bem-te-vis, Joões-de-barro, pomba-rola, colibris, corruíras, etc.) às de grande porte (emas, gaviões, corujas, águias, etc.) que algumas empresas já usam avaliações da avi-fauna como medição da saúde biológica, da biodiversidade e da qualidade ambiental de suas florestas (http://www.fibria.com.br/web/pt/ambiente/biodiversidade.htm). Como resultado disso tudo, abrem-se as portas para inúmeras pesquisas e estudos em biologia, zoologia, ecologia e geografia nas áreas florestais.

• Antes de se plantar e mesmo antes de se realizar o planejamento ambiental do complexo eco-florestal, realizar campanhas para identificar os exemplares de fauna e de flora da fazenda, as espécies ameaçadas, as áreas ocupadas por elas, a capacidade de mobilidade dessas espécies, o mapeamento da biodiversidade, a relação solo/clima com fauna/flora, etc. Isso vai permitir um melhor planejamento do complexo, colocando áreas de abrigo para a fauna de baixa mobilidade, áreas de proteção para a fauna dos afloramentos rochosos, das áreas mais áridas, dos areais, etc. Ou seja, cada ecossistema tem sua fauna e flora característica. Melhor se conhecê-la antes, de maneira a lhe causar mínimo impacto e de se protegê-la dos impactos das nossas atividades.

• Localizar as áreas das plantações de forma mais segregada e fragmentada, evitando plantios de áreas muito extensas e contínuas. Incluir a segregação e a fragmentação por espécies, clones, idades, etc. Em resumo, muita diversidade deve ser buscada no planejamento do mosaico.

• Toda vez que o plantio florestal causar interrupções importantes em extensas áreas de campos (nativos, cerrados ou mesmo pastagens artificiais), procurar dispor as áreas de plantações de forma que as espécies da fauna encontrem capacidade de migração para novas zonas, sem serem afetadas em sua qualidade de vida.

• Planejar as interligações das áreas de mata nativa e de ecossistemas a serem protegidos, envolvendo para isso as áreas próprias e as áreas dos terceiros vizinhos às fazendas florestais. Com isso, será possível a disseminação da cultura dos corredores ecológicos e a consolidação de fragmentos naturais de maiores dimensões.

• Planejar melhor a paisagem, mantendo as características regionais, os aspectos paisagísticos relevantes da região, os monumentos históricos e sítios antropológicos.

• Planejar a colheita florestal de maneira a não se desnudar extensas áreas por corte raso. Há que se garantir que a fauna que depende das áreas de eucalipto tenham também a oportunidade de encontrar áreas plantadas com o mesmo para migrarem conforme avança a colheita.

• Incluir o monitoramento das aves migratórias que eventualmente passem pela região das plantações. Os mosaicos eco-florestais e a fragmentação da paisagem não devem causar alterações significativas que possam atrapalhar esses fluxos migratórios. Caso haja migração de aves pela região, é importante se deixar áreas de amortecimento para que essas aves tenham espaço para abrigo, alimentação e repouso em seu trajeto migratório.

• Só permitir a caça de espécies da fauna que sejam problemáticas e invasivas e cuja população esteja crescendo de forma explosiva. É o caso por exemplo de caturritas, javalis, abelhas africanas, piranhas. Sempre que ocorrer a liberação de caça e pesca dessas espécies de alta densidade populacional, isso deve ser feito com o acompanhamento dos órgãos competentes.

• Avaliar criteriosamente as potenciais formas de manejo sustentado para as áreas de reserva legal (produção de sementes de espécies nativas, produção de mel, pólen, germoplasmas, predadores de pragas - parasitóides, etc.). A apicultura é uma atividade interessante tanto para as áreas de florestas plantadas como para as de matas nativas. As abelhas são importantes polinizadoras para a flora. Esse manejo sustentado das áreas naturais deve ser feito com base em ciência e muito monitoramento. O uso dessas áreas para atividades silvo-pastoris pode ser útil para a sociedade, mas pode ter conseqüências sérias para a biodiversidade. Portanto, se no futuro o setor ou mesmo o governo se interessarem no uso racional dessas áreas de reserva legal, novas avaliações, estudos e monitoramento deverão ser realizados em comum acordo com os órgãos de controle ambiental.

• Buscar a integração de áreas de produção de alimentos no complexo eco-florestal, transformando-o em eco-agro-florestal, através de espaços destinados à agrossilvicultura.
Tenho absoluta convicção que o setor florestal tem respeitado a legislação florestal brasileira. Isso pode ser comprovado pelas empresas com certificações IS0 14001, FSC e CERFLOR. Para obter essas certificações, é condição mínima que as empresas estejam cumprindo a legislação pertinente a elas. Entretanto, nossas empresas podem ir além da chamada conformidade legal ("beyond compliance"). Existem ainda maravilhosas oportunidades para novos ganhos e para um contínuo aperfeiçoamento dos modelos vigentes para as plantações florestais. Isso pode ser conseguido através do conhecimento científico, do bom senso, do envolvimento das partes interessadas e do comprometimento dos setores empresarial e público. Aqueles que tentam impedir as plantações florestais estão na verdade causando um desserviço para o País, para a sociedade e para o próprio meio ambiente. Seria muito melhor que se integrassem ao processo através de um diálogo construtivo, conhecendo as práticas e propondo alternativas, como eu estou a fazer através desse mini-artigo.

Gostaria de comentar um pouco mais a seguir sobre a biodiversidade, já que é o tema central desse mini-artigo. Certamente, sabemos que nas áreas efetivamente plantadas, onde temos o monocultivo do eucalipto, a biodiversidade em fauna e flora deverá ser menor do que nas áreas de pungente mata nativa. Essas áreas de mata nativa também estão presentes no complexo eco-florestal, distribuídas de forma planejada nesse mosaico, como já vimos. Essas áreas servem para abrigar, proteger, fornecer alimentos e conservar a fauna e a flora. Entretanto, a área de floresta plantada também tem sua biodiversidade. Primeiro, porque as áreas do mosaico não são separadas por cercas, não são estanques.

Elas se comunicam, se distinguem apenas na sua composição. A fauna pode transitar de uma área para a outra, da área de mata nativa para a de plantação de eucalipto e vice-versa. Pássaros, répteis, anfíbios, mamíferos migram de uma área para a outra conforme a sua conveniência. Pode ser para buscar sombra, para se alimentar no sub-bosque do eucalipto, para construir ninhos e abrigos, para descanso, etc. Ao veicularem de um lado para o outro, esses animais levam pólen, sementes em suas fezes, e colaboram para um enorme aumento no banco de sementes da área da plantação florestal. O que na maioria das vezes era um pasto pobre em sementes, passa a receber sementes que podem vir a germinar em momento oportuno, dando origem a ricos sub-bosques. O sub-bosque costuma se desenvolver após o segundo ano nas plantações de eucalipto, após a fase de combate à mato-competição que prejudica o crescimento inicial da floresta plantada. A riqueza do sub-bosque é função da espécie florestal sendo plantada, do espaçamento, da riqueza de sementes na área, da adaptação das espécies a viverem na sombra das plantações, da riqueza do solo, etc. Como a intervenção humana é mínima entre o terceiro ano e a época da colheita, o sub-bosque cresce e se desenvolve bem durante um período relativamente longo. Espécies como araçás, pitangueiras, goiabeiras, butiás, amoreiras, aroeiras, etc. são muito comuns nos sub-bosques dos eucaliptais. São espécies frutíferas que atraem animais, e também nossas conhecidas polinizadoras, as abelhas e vespas. Quando a floresta plantada é manejada para a produção de madeira para serraria, as rotações são mais longas e a prática do desbaste aumenta a distância entre as árvores. Com isso, o sub-bosque ganha mais espaço para vicejar e se enriquecer. São em geral ciclos mais longos, entre 14 a 20 anos, portanto amigos, imaginem a riqueza dessa vegetação que se forma à sombra dos eucaliptos. Só quem conhece pode admirar, portanto, recomendo uma olhada nisso, quando tiverem oportunidade. As espécies de eucaliptos convivem muito bem com as espécies nativas nos seus sub-bosques. Não há restrição ao desenvolvimento do sub-bosque. É claro que algumas sementes têm sua germinação afetada pela deposição de folhas, cascas e galhos da floresta plantada. Entretanto, outras conseguem superar isso e o sub-bosque logo se forma. A tolerância à sombra é também muito importante. Algumas espécies da flora precisam de sol intenso, logo elas deverão ocorrer mais nas áreas de reserva legal ou de preservação permanente. Mais uma vez podemos dizer que a biodiversidade existe, pode ser algo diferente, mas ela é muito presente e abundante nos eucaliptais. Há ainda uma biodiversidade raramente notada pelos que não estão acostumados com as florestas plantadas. Trata-se da biologia e microbiologia que dependem dessa rica camada de matéria orgânica que se deposita sobre o solo, a chamada serapilheira ou manta orgânica. Se olharmos sob essa manta, vamos encontrar uma enorme riqueza de insetos, minhocas, aracnídeos, líquenes, fungos micorrízicos e saprofíticos, etc. Uma biologia invejável para um solo que antes era pobre em carbono orgânico e em micro-biota.

Aquilo que se encontra nas fazendas onde se plantam as florestas de eucaliptos é na verdade um somatório de biodiversidades. Temos a característica biodiversidade das áreas de efetivo plantio, a rica biodiversidade das áreas de preservação (APPs e ARLs) e a biodiversidade que transita e migra pelos corredores ecológicos planejados para isso. Ou seja, essa soma de biodiversidades faz com que a biodiversidade do complexo mosaico eco-florestal seja absolutamente maior do que as antigas áreas de pastagens adquiridas para as plantações. Isso qualquer engenheiro florestal assina em baixo sem pestanejar. E não precisa ser engenheiro florestal para isso, qualquer cidadão pode comprovar visitando essas áreas assim planejadas e manejadas.

Outra preocupação da comunidade científica é em relação à capacidade invasiva das espécies exóticas, como é o caso dos eucaliptos. As espécies de eucaliptos plantadas no Brasil têm baixa capacidade invasiva, ou de suas sementes originarem plantas adultas por si próprias. Em geral, quando existe uma árvore de eucalipto adulta, essa árvore foi plantada por alguém. Isso porque o eucalipto precisa tratos especiais para se desenvolver, especialmente o controle das formigas cortadeiras. Além disso, é obrigação legal das empresas florestais a erradicação de plantas de eucalipto que porventura venham a nascer naturalmente nas áreas de preservação permanente ou de reserva legal. Isso é para manter a integridade das matas nativas a proteger. Na verdade, o que mais ocorre é um enriquecimento da mata nativa das APPs e ARLs com mudas de espécies nativas da região, plantadas pela mesma empresa que está reflorestando com eucaliptos as áreas a eles destinadas. As empresas privadas líderes em reflorestamento no Brasil têm feito muito bem a preservação das áreas nativas de suas propriedades e também colaborado nas áreas de terceiros com os quais mantêm parceria. Por essa razão, um dos impactos positivos mais significativos das plantações florestais tem sido a conservação das áreas de preservação permanente e de reserva legal, como uma forma de demonstração positiva dessa prática para as outras atividades da agricultura que ainda não a executam como rotina.

Outra reclamação constante de grupos contrários aos eucaliptos é pelo fato dele não ser um gênero brasileiro, e por isso, chamado de uma planta exótica. A opção por plantas exóticas oriundas de outros países tem sido função da alta rusticidade dessas plantas, sua resistência a pragas e doenças, sua flexibilidade e altas produtividades. A maioria das plantas da agricultura e dos animais da zootecnia no Brasil são também originados de outros países, trazidos que foram pelos colonizadores. A própria sociedade brasileira é um misto de muitas origens exóticas, mesclando-se e convivendo muito bem aqui pessoas descendentes de europeus, latino americanos, asiáticos, indígenas e africanos. Uma das características muito positivas do Brasil tem sido sua capacidade de adaptar e de melhorar produtos agrícolas originários de outras regiões. Para isso, a tecnologia agrícola e nossa diversidade em climas e solos tem ajudado que consigamos resultados excepcionais com as culturas ou criações de cana-de-açúcar, soja, milho, batata, café, arroz, laranja, maçã, frango, peru, carneiro, gado bovino, cavalo, etc. Espécies florestais exóticas, se bem manejadas, podem perfeitamente conviver com espécies locais sem causar o deslocamento ou a eliminação dessas últimas. Além disso, a maioria das empresas florestais que plantam florestas de eucalipto também plantam muitas mudas de plantas nativas anualmente, para enriquecer as APPs e ARLs.

Por todas essas razões expostas, tenho a mais completa certeza de que o setor de florestas plantadas caminha no sentido da conservação da biodiversidade, dando sua contribuição não para a formação de "desertos verdes", mas sim de complexos e biodiversificados mosaicos de produção sustentada de produtos da floresta. Ao se falar em biodiversidade das florestas plantadas devemos olhar não apenas a área plantada com os eucaliptos, mas toda essa fantástica unidade de manejo que se caracteriza como nosso mosaico eco-florestal. As práticas adotadas para o manejo florestal devem fornecer a requerida harmonia ecológica entre as áreas produtivas e as áreas de preservação. Com essas práticas e com o compromisso assumido por suas lideranças, o setor se coloca como uma das atividades que mais preserva a Natureza e a biodiversidade no Brasil.

Fonte: EUCALIPYTUS ONLINE BOOK

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