Estimativas de Carbono em Áreas Florestais

12/07/2010 17:16

SÍNTESE DO CONHECIMENTO SOBRE ESTIMATIVAS DE CARBONO

 EM ÁREAS FLORESTAIS

Vinicius Rocha Leite1 e Tatiana da Silva Lopes2

1.Programa de Pós-Graduação em Gestão e Educação Ambiental - FAESA. Rodovia Serafim Derenzi, 3115. Bairro São Pedro. Vitória-ES CEP 29048-450 TEL. (27) 3345-0951 vinicius-leite@bol.com.br  

2.Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal, CCA-UFES.

 

Resumo

Além do papel ambiental já conhecido das florestas, recentemente tem sido aplicado nova valoração a estes ambientes. O aquecimento global e a possibilidade de comercialização de créditos de carbono geraram esta nova concepção, de que áreas florestadas em crescimento, atuam como mantenedoras de um fluxo e armazenagem de carbono, sendo passíveis de geração de créditos para pagamento do débito de carbono dos países industrializados poluidores. O estudo aqui descrito teve a função de compilar as metodologias para cálculo da estocagem de carbono em florestas nativas e povoamentos puros ou mistos de espécies comerciais. Foram encontrados quatro métodos de estimativa, entre eles o que corresponde ao valor de 50% da biomassa calculada, o de derivação em biomassa e carbono, o de Titulação ou Walkley-Black e o da combustão úmida ou seca. Este último constitui o mais atualizado, apesar disto, não é utilizado ainda com freqüência, dada a inviabilidade de aquisição dos equipamentos por instituições de pesquisa em muitos casos, e pela maior facilidade de execução dos outros métodos como o que utiliza o fator 0,5. Os resultados obtidos em muitos estudos são inadequados para comparação, pois a quantidade de carbono varia de acordo com os complexos compartimentos ambientais. Estas comparações, mesmo que realizadas com dados similares, como análise com a mesma espécie, podem ser dificultados, pois não há uma padronização de métodos e de unidades de medida. Conclui-se que estes conhecimentos têm avançado rapidamente, e que um controle, discussão e escolha de formulações similares, através de testes experimentais, seja essencial para a criação a longo prazo de valores padronizados até certo ponto, por espécie e região, tornando talvez no futuro, desnecessária a quantificação em alguns casos, a depender da proximidade física e das peculiaridades de cada projeto.

Introdução

Após o estabelecimento da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, trabalhada no ano de 1992 na Rio-92, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, foram firmados objetivos com ações de diminuição das concentrações de gases do efeito estufa pelos países industrializados. Desde então, diversas têm sido as ações para o monitoramento do carbono em florestas plantadas, visando além de um conhecimento inicial do assunto, a valoração destes bens para comercialização no mercado de créditos de carbono. Segundo ROCHA (2006) tem sido pouco efetiva a participação de projetos deste tipo no mercado, apesar de terem elementar potencial. Diante desta procura por mecanismos de minimização da poluição, as florestas, em vista das mudanças climáticas, estariam agora sendo consideradas como prestadoras de um serviço ambiental novo, atuando na estocagem de carbono (SANQUETA e BALBINOT, 2004). Apesar de ser freqüente a estimação da biomassa e do carbono apenas da parte aérea das árvores, como caule e folhas, FEARNSIDE (1994) sugere que é importante o acréscimo de todos os componentes da biomassa na quantificação e na estimativa dos estoques de carbono (e.g., serapilheira e raízes). Desta forma, para obtenção dos teores de carbono no alvo da quantificação, deve ser procedido um mapeamento da área florestal, um inventário, a determinação da biomassa e finalmente do carbono. O objetivo desta análise foi a de caracterizar a evolução e o conhecimento atual das metodologias para cálculo de carbono em áreas florestadas.    

Material e Métodos

Visando a comparação das metodologias existentes para cálculo de carbono, foi realizada uma compilação de trabalhos vertentes a este ramo, sendo considerados os produzidos em áreas florestadas com espécies nativas, exóticas, povoamentos puros ou mistos de espécies comerciais. Os artigos utilizados foram vistoriados no sentido de se encontrar o método utilizado na estimativa, a(s) espécie(s) analisada(s), os valores encontrados e os tipos de compartimentos da biomassa considerados.

Resultados

Em meados da década de 1990 (e.g., MARTINELLI e CAMARGO 1996), constata-se que ainda eram estimados apenas planos para o desenvolvimento dos cálculos de carbono estocado, sendo indicado o conhecimento total de áreas naturais e plantadas, áreas desmatadas e suas emissões, biomassa das florestas e seu funcionamento no que concerne ao balanço entre fotossíntese e respiração. Em 2003, BALBINOT et al. realizou análise do carbono orgânico em população de Pinus taeda com cinco anos de idade, englobando os vários componentes da biomassa, solo, serapilheira e raízes, constatando altos teores de carbono nas acículas (folhas) das plantas, sendo estes maiores que o da madeira. MELO e DURIGAN (2006) estimaram a fixação de carbono para outra espécie deste gênero, a Pinus elliottii no cerrado, como sendo a maior entre povoamentos com outras três espécies e também entre diferentes modelos sucessionais com nativas. Estes autores confirmam a necessidade de não ignorar a superioridade destas espécies de crescimento acelerado, que assimilam rapidamente o carbono. Os diferentes métodos propostos para realizar estimativas do carbono estocado em florestas são comumente utilizados, não sendo adotado um único método ou um com alta freqüência, pelo menos a uma visão superficial. Uma metodologia indicada por MACDICKEN (1997) é a de utilização do fator 0,5, correspondente a metade da biomassa seca encontrada. Outra forma de realizar tais aferições é seguindo a expressão recomendada por WANG et al. (2001), que utiliza um método de derivação do volume em biomassa e carbono com fator de conversão do estoque de carbono, densidade básica da madeira e proporção da biomassa (SCHNEIDER et al., 2005). Em SANQUETTA et al. (2006), pode ser encontrada a descrição de uma maneira de quantificação mais precisa e atual, o da combustão úmida ou seca, em que um equipamento realiza combustão da matéria orgânica ou tecidos em cerca de 60 segundos, quantificando o total de carbono através da análise gráfica realizada por um software específico. Também comentam sobre o processo por titulação ou Walkley-Black, onde o carbono é oxidado pelo dicromato em meio ácido. De acordo com a Tabela 1, observa-se a quantificação de carbono em alguns estudos envolvendo diferentes métodos e situações ambientais.

Tabela 1 – Quantificação de carbono por diferentes métodos de estimativa em distintas situações ambientais.

Método

Povoamento

Média de Carbono

Autores

Derivação Volume Biomassa Carbono

Acacia mearnsii

51,69 (t.ha-1)

Schneider et al. (2005)

Fator 0,5

Mata Ciliar

42,13 (t.ha-1)

Melo e Durigan (2006)

Fator 0,5

Manguezal

76,09 (t.ha)

Carvalho e Fonseca (2006)

Titulação ou Walkley-Black

Pinus taeda

18,9 (Mg.ha-1)

Balbinot et al. (2003)

Teor Médio de Carbono (outro estudo)

Eucalyptus

99,04 (t.ha)

Gatto (2006)

______________________________________________________________________

Discussão

A consideração do fator 0,5, ou seja, de 50% do peso seco, foi adotada recentemente por CARVALHO e FONSECA (2006) na quantificação da biomassa e do carbono em área de manguezal no município de Niterói-RJ. Eles ressaltaram a importância ambiental dos mangues, deixando clara a necessidade de programas de restauração dos manguezais. Segundo SANQUETTA et al. (2006) este tipo de estimativa, apesar de não ser um valor descartável, não é universalmente verdadeiro, pois os teores variam de espécie para espécie, atingindo raramente os 50%. Dados de quantificação do carbono geralmente não são cabíveis de comparações, pois em florestas plantadas para SCHROEDER (1991), variam diretamente de acordo com a espécie, idade e capacidade reprodutiva do sítio, portanto, pode ser comum a obtenção de valores distintos nas incomparáveis situações e regiões do Brasil, havendo a necessidade da experimentação para um melhor entendimento desta diversidade ambiental. Na análise dos estudos contemplados neste trabalho, detectou-se que os métodos utilizados apresentam uma divergência, não sendo possível realizar uma comparação satisfatória dos dados, também pelo uso de distintas unidades de medida. Alguns autores utilizam dados de outros estudos florestais, muitas vezes advindos de monitoramento fitossociológicos. Em GATTO (2006) confirma-se a utilização de informações externas, onde foram calculados anteriormente ao seu estudo, os teores médios de carbono para espécies de eucalipto. Estas aferições por espécie são primordiais para o conhecimento padrão-gradativo desta estocagem. O ideal para estas medidas, é que fossem embutidas outras variáveis ambientais, visando um melhor aproveitamento de dados já formulados, considerando que tem sido provado que as peculiaridades dos fatores físicos entre regiões e as propriedades das unidades dos povoamentos causam fixação variável de carbono. Considerando que estes conhecimentos têm avançado rapidamente, e que um controle, discussão e escolha de fórmulas similares, determinadas através de testes experimentais, seja essencial para a criação a longo prazo de valores por espécie e região, tornando, talvez no futuro, desnecessária a quantificação em alguns casos, a depender da proximidade física e das especificidades a que se assemelham determinados projetos. Sugere-se que em encontros de especialistas nos eventos da área, sejam discutidas estas divergências, buscando um consenso para utilização destas metodologias, inclusive já objetivando a agregação de novas variáveis nas reformulações dos cálculos, de modo que seja possível a criação de padrões que abranjam as diversas características biológicas entre regiões e espécies a serem utilizadas.

Conclusão

O Brasil é um país com alto potencial para produção de florestas, e já que nos atuais momentos vê-se diante destas mudanças, será necessário o aproveitamento integral destas análises como mecanismos de aferição da mitigação das emissões de CO2, visando subsídios a elaboração de futuros projetos florestais e obtenção de créditos para comercialização no mercado de carbono.

 

Referências

BALBINOT, R.; SCHUMACHER, M. V.; WATZLAWICK, L. F.; SANQUETTA, C. R. Inventário do carbono orgânico em um plantio de Pinus taeda aos 5 anos de idade no Rio Grande do Sul. Revista Ciências Exatas e Naturais (5)1: 59-68, 2003.

CARVALHO, L. C.; FONSECA, S. M. Quantificação da biomassa e do carbono em Rizophora mangle, Avicennia shaueriana e Laguncularia racemosa no manguezal da laguna do Itaipu, Niterói-RJ. In: SANQUETTA, C. R.; ZILIOTTO, M. A. B.; CORTE, A. P. D (Eds.). Carbono: desenvolvimento tecnológico, aplicação e mercado global. Curitiba: UFPR/Ecoplan, 2006. p-228-239.

FEARNSIDE, P. M. Biomassa das florestas amazônicas brasileiras. In: Emissão x seqüestro de CO2 – Uma nova oportunidade de negócios para o Brasil. Rio de Janeiro, 1994. p-95-124.

GATTO, A. Estoques de carbono no solo e na biomassa de plantações de eucalipto na região centro-leste do estado de Minas Gerais. SANQUETTA, C. R.; ZILIOTTO, M. A. B.; CORTE, A. P. D (Eds.). Carbono: desenvolvimento tecnológico, aplicação e mercado global. Curitiba: UFPR/Ecoplan, 2006. p-274-279.

MACDICKEN, K. A guide to monitoring carbon storage in forestry and agroforestry projects. Arlington: Winrock International Institute for Agricultural Development, 1997.

MARTINELLI, L. A.; CAMARGO, P.B. O monitoramento do carbono em áreas florestadas. Série Técnica IPEF (10)29:6-10, 1996.

MELO, A. C. G.; DURIGAN, G. Fixação de carbono em reflorestamentos de matas ciliares no Vale do Paranapanema, SP, Brasil. Scientia Florestalis (71):149-154, 2006.

ROCHA, M. T. Mudanças climáticas e o mercado de carbono. In: SANQUETTA, C. R.; ZILIOTTO, M. A. B.; CORTE, A. P. D (Eds.). Carbono: desenvolvimento tecnológico, aplicação e mercado global. Curitiba: UFPR/Ecoplan, 2006. p-19-41.

SANQUETA, C. R.; BALBINOT, R. Metodologias para determinação de biomassa florestal. In: SANQUETA, C. R.; BALBINOT, R.; ZILIOTTO, M. A. B. (Eds.). Fixação de carbono: atualidades, projetos e pesquisas. Curitiba: UFPR/Ecoplan, 2004. p-77-93.

SANQUETTA, C. R.; CORTE, A. P. D.; BALBINOT, R. LEAL, M. C. B. S.; ZILOTTO, M. A. B. Proposta metodológica para quantificação e monitoramento do carbono estocado em florestas plantadas. In: SANQUETTA, C. R.; ZILIOTTO, M. A. B.; CORTE, A. P. D (Eds.). Carbono: desenvolvimento tecnológico, aplicação e mercado global. Curitiba: UFPR/Ecoplan, 2006. p-240-265.

SCHNEIDER, P. R.; FINGER, C. A. G.; SOBRINHO, V. G.; SCHNEIDER, P. S. P. Determinação indireta do estoque de biomassa e carbono em povoamentos de acácia-negra (Acacia mearnsii de Wild. Ciência Florestal (15)4:391-402, 2005.

SCHROEDER, P. Carbon storage potential of short rotation tropical tree plantations. 1991.

WANG, X.; FENG, Z.; OUYANG, Z. The impact of human disturbance on vegetative carbon storage in forest ecosystems in Chin. Forest Ecology and Management (148).  P-117-123.

 

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