Leite de vaca fresco e orgânico
17/11/2012 23:38Avanços tecnológicos e expansão da demanda anunciam o crescimento do mercado de leite orgânico no Brasil.

Folhas verdes, tomates tenros e incontáveis outros vegetais vem à cabeça quando o assunto é alimento orgânico. Mas quem pensaria em uma jarra de leite fresco? Tem gente pensando, e pensando grande.
A produção de leite orgânico não é uma novidade. Leite orgânico é um produto fabricado há décadas em pequenas propriedades brasileiras, mas só com a recente produção dos orgânicos em larga escala é que passou a ser avaliado e certificado.
A fazenda Nata da Serra, por exemplo, produz leite orgânico há 14 anos, é uma das pioneiras no país a tentar expandir sua produção para um nível industrial e conseguir baratear a produção.
Foi em 2005, no entanto, que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) começou a apoiar esse ramo da indústria. As atividades se iniciaram na cidade de Juiz de Fora (MG) trabalhando apenas com leite fornecido por produtores locais. Hoje, por meio do projeto Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) a Embrapa leva pesquisas universitárias, ou seja conhecimento, para as fazendas. O objetivo é que as propriedades se tornem ‘Unidades de Demonstração’ e sirvam de exemplo para outros produtores.
No caso do leite orgânico, para que isso de fato aconteça, o programa ‘Balde Cheio’ se dedica ao desenvolvimento de tecnologias para a produção. No ano passado, em todo o Brasil foram produzidos 5,5 milhões de litros de leite orgânico, 1% de todo o leite comercializado no país.
Devido a ausência de hormônios sintéticos, o gado leiteiro orgânico produz menos leite que o convencional, pelo mesmo custo. Isto torna o leite orgânico aproximadamente 50% mais caro que o tradicional para produzir, mas já chegou a custar o dobro. Mesmo nos Estados Unidos, maior mercado mundial do setor, o produto ainda é mais caro do que o tradicional. Por lá, o Instituto Cornucopia é referência no assunto e realiza pesquisas e levantamento de dados com o objetivo de manter elevados os padrões de qualidade na produção de leite orgânico, para que o mercado continue expandindo.
Processo Orgânico
Na produção de leite orgânico, as vacas têm seu sustento baseado em pasto, e não em ração, como no sistema tradicional. Isso para evitar a ingestão de qualquer tipo de proteína ou hormônio, o que inclui os medicamentos alopáticos. Se for necessária, a medicação utilizada sempre será homeopática.
Para evitar o desmatamento, as pesquisas na área visam aumentar a capacidade de cabeças de gado por hectare de pasto. “Esta não é uma questão só dos orgânicos, mas de todos os sistemas de produção de leite e corte. O que fizemos aqui foi implantar um sistema de pastejo rotacionado, onde saímos de 1 animal/há [por hectare], sendo que a média nacional é de 0,9 animais/há, e fomos para mais de 5 animais/há”, explica o fazendeiro Ricardo Schavinatto, da fazenda Nata da Serra.
O processo orgânico visa garantir também o bem-estar do animal. Neste sistema as vacas pastam à noite, pois segundo seus instintos primitivos, é o momento mais seguro para animais lentos e dóceis como elas. Os bezerros também ficam com as mães, inclusive na hora de tirar o leite. “ Devido a tudo isso, o leite orgânico é o único com o equilíbrio correto entre Ômega 3 e Ômega 6”, explica Schavinatto, confirmando que seu produto é mais nutritivo que o tradicional. Leite no balde, a vaca vai descansar, mas o processo continua para que o produto possa chegar ao consumidor. Todo o líquido é pasteurizado (no Brasil é proibida a produção de leite sem passar por este processo) e então segue para a venda, ou para a produção de laticínios, que no caso da Nata da Serra é a maior fonte de renda da fazenda.
Expansão do Mercado
O leite orgânico é vendido comumente em lojas especializadas, o chamado mercado alternativo, mas os derivados, como a manteiga e o iogurte é que dão mais retorno para a fazenda. “Meu iogurte natural só tem leite e fermento. A nossa maior venda é dos derivados do leite”, conta Ricardo Schavinatto, dono da Nata da Serra.
A fazenda possui atualmente cerca de 150 cabeças de gado da raça Jersey, sendo aproximadamente 60 delas, vacas leiteiras. Com esse contingente, sua produção atinge a marca dos mil litros por dia. A própria Nata da Serra foi quem buscou na Embrapa o apoio para a produção e, parceria firmada, conseguiu uma gama de conhecimento técnico para ser implementada na fazenda.
O aumento da produção geral de leite orgânico é uma consequência e ao mesmo tempo um motivo para os esforços dos fazendeiros. Depois de mais de uma década neste ramo, Ricardo Schavinatto passou a prestar serviço de consultoria na área, um de seus clientes foi a Fazenda Malunga, em Brasília. A propriedade começou a produzir alimentos orgânicos na década de 80, e posteriormente começou a criar bovinos. “O excedente da horta vai para a alimentação do gado, e os resíduos dos animais voltam como adubo para os vegetais”, explica a coordenadora Ana Catarina Valle, sobre o ciclo sustentável na produção dos vários alimentos orgânicos.
Seguindo a mesma ideia, a fazenda começou a produzir leite orgânico, em 1999, a princípio de forma quase artesanal, vendendo em feiras e entregando em residências próximas. Em 2006, este nicho passou a ser profissional para a fazenda, quando investiram em tecnologia e rebanho para aumentar a produção e colocaram sua marca de leite orgânico à disposição nas redes de hipermercados Extra e Pão-de-Açúcar.
Fonte: asboasnovas.com
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