O admirável mundo novo da tecnologia não está longe
19/11/2012 21:29Cientista italiano, Federico Pistono prevê o fim do mercado de trabalho com a adoção de novos computadores.
Daqui a um ou dois anos, as pessoas não vão precisar passar oito horas por dia no escritório, porque serão poucos os que terão emprego. Tão pouco será necessário ir ao supermercado comprar comida ou até mesmo produzi-la.
Para matar a fome, será preciso apenas apertar um botão na impressora 3D. O cenário descrito acima mais parece uma versão pouco elaborada do famoso livro de Aldous Huxley "Admirável Mundo Novo", mas, segundo o cientista italiano Federico Pistono, está prestes a se tornar real.
Ele veio ao Brasil lançar o livro "Robots will steal your job, but that´s ok - how to survive the economic collapse and be happy" e dar aula na escola de atividades criativas Perestroika, fundada por Tiago Mattos - colega de Pistono na Singularity University, no Vale do Silício. Veja abaixo a entrevista exclusiva com o cientista que prevê o fim do mundo que conhecemos hoje.
Quando começou a pensar no desemprego tecnológico?
A questão do desemprego tecnológico é pouco disseminada. As poucas pessoas que abordam o tema são acadêmicos e economistas, que não devem ser tão impactados pelo desemprego. Minha ideia, desde que eu tinha 16 anos, era ter ideias inteligentes para ajudar o planeta e a sociedade. Não somos civilizados ainda, acho que podemos ser mais humanos.
Dou minha pequena contribuição fazendo filmes e escrevendo o livro "Robots will steal your job, but that´s ok - how to survive the economic collapse and be happy". Acho que é pela cultura popular que se muda a política e os negócios. Se as pessoas querem alguma mudança, o resto é movido a isso.
É o caso da revolução verde que foi um movimento criado pelas pessoas e que foi adotado pelos políticos e empresas. Então, o que eu pretendo é mostrar para as pessoas o iminente, incontrolável e catastrófico fim de todo o mundo econômico.
Em que ponto estamos hoje na evolução tecnológica?
No momento, desenvolvemos a tecnologia de forma exponencial, mas não estamos acostumados a pensar de forma exponencial, pensamos linearmente. Se você olhar a Kodak, valia em 1979, 90% do marketshare dos Estados Unidos e, em 2012, quebrou.
Já o Instagram tinha 13 funcionários e foi vendido por US$ 1 bilhão, que é fotografia digital, enquanto a Kodak é analógica. Se antes, demorava 60 anos para mudar uma tecnologia e a economia, hoje, demora cinco para termos um mundo totalmente diferente.
Se a tecnologia avança exponencialmente, o tempo de mudança vai cair para dois anos, um ano, semanas... Em 10 anos, o Iphone terá a capacidade equivalente ao cérebro humano. Em 20, será 1 milhão de vezes mais inteligente do que o humano. Então, como é possível competir no mercado com algo que é 1 milhão de vezes mais esperto do que você?
É por isso que eu acho que a economia vai entrar em um colapso, porque a automação vai acabar com todos os trabalhos, só sobrarão alguns engenheiros, técnicos em computação e gerentes... Há duas alternativas: ou todo o resto fica desempregado ou se cria empregos inúteis para que tenham um salário no fim do mês.
Isso é insano, por isso acho que deveríamos estar fazendo algo de mais útil em 2012 - tentar descobrir a cura para o câncer, tentar resolver a desertificação dos solos... Por que não fazermos coisas que realmente importam?
Por que você escreve no livro que "tudo bem" perder o emprego?
Porque podemos olhar para isso como oportunidade. Que tal usarmos nossa tecnologia, nossa inteligência para trabalhar menos mas, ao mesmo tempo, ter todas as nossas necessidades atendidas? Diziam que o problema era que não se sabia o que as pessoas queriam, mas isso não é verdade por causa da internet.
A Amazon oferece produtos a partir do histórico de compras. Isso é um problema que os humanos não conseguiriam resolver, mas as máquinas, sim. Então, em vez de ajustarmos as máquinas para prever o que os humanos vão querer comprar, ajustar para detectar formas de consumir menos e precisar menos de dinheiro. Hoje, temos impressoras em 3D que hoje são vistas como brinquedos, mas não são. É como no filme Star Trek - se você quer chá, ela imprime um chá.
Centenas de pessoas ao redor do mundo estão imprimindo comida, outras imprimem ferramentas e órgãos. Cada vez mais os modelos custam menos e estão mais eficientes. Essas tecnologias são inovação aberta (open source). Hoje, as impressoras conseguem imprimir 60% delas mesmas (com o intuito de se replicarem).
Com o tempo, poderemos dar de presente para amigos e o resultado é que não precisaremos mais de indústrias manufatureiras. Vai ser simples: é só imprimir o que se quer. Estamos a um ponto de uma nova civilização, mas ainda achamos que essas tecnologias são apenas brinquedos e trabalhamos oito horas por dia em empregos que não gostamos para comprar coisas que não precisamos.
Que tal nos tornarmos mais eficientes e só trabalharmos para ter coisas que de fato precisamos? O cenário atual não é sustentável, causa estresse e não permite que as pessoas passem tempo com a família. Com a tecnologia, pode-se fazer o que sempre se quis fazer: estudar, viajar...
Isso já é uma realidade?
Advogados, médicos, motoristas de ônibus estão sendo automatizados... Provavelmente, em um ou dois anos. Se você tem um emprego que é dificílimo de ser substituído, dou 10 a 15 anos. Estamos um pouco atrasados em pensar nisso, mas ainda dá tempo.
Você não deve fazer medicina pensando em ter emprego, mas pelo seu bem. Se houver um blecaute, podem precisar de você. É a maior oportunidade da raça humana de todos os tempos, espero que a usemos de forma para o bem.
As palavras-chave são colaboração, transparência, inovação aberta e não crescimento econômico. Ou ajustamos e mudamos ou morremos, por causa da degradação ecológica. A morte ecológica não é teórica - é real - e pelo quê? Porque precisamos de uma lâmina de barbear que também é um canivete?
Mas como se dará a mudança de comportamento?
Uma forma é pela publicação dessa matéria, alguém que faz uma música, tevê, cinema. Outra forma é depois de uma enorme crise econômica, nos Estados Unidos, Europa.
Quando as pessoas não tiverem para onde ir, podem pensar em novas formas de viver. Espero que não seja o levante do facismo e, sim, pela real mudança de forma de viver, por meio da sustentabilidade, códigos abertos...
Como fica a questão econômica?
As pessoas vão precisar de menos coisas e aquilo que não é produzido pode ser trocado. Seremos como uma grande família. É mais eficiente e humano.
Natália Flach (nflach@brasileconomico.com.br)
Fonte: Jornal Brasil Econômico
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