SOLAR VENTURA LOPES

SOLAR VENTURA LOPES

A obra retratada é o prédio localizado na Praça D. Ermelinda, nº 17, antigo nº 2/2-A, em Miracema-RJ, onde morou um dos principais nomes da emancipação de Miracema, Antônio Ventura Coimbra Lopes. No imóvel, que hoje ainda pertence à família de Ventura Lopes e está totalmente conservado e preservado, as atividades políticas foram intensas, principalmente no período em que muito lutou-se pela emancipação de Miracema.
 
Quem nos abrilhantará com seu texto histórico é o advogado miracemense Roberto Monteiro Ribeiro Coimbra Lopes (Roberto Ventura), filho de Antônio Ventura Lopes.
 
O imóvel:-

-- foi construído por José de Freitas, cidadão natural de Portugal, casado com a miracemense D. Anna Padilha de Freitas;
-- é constituído de prédio edificado em dois pavimentos – térreo e superior –, de quintal e de área própria para serviços;
--possui em sua fachada duas inscrições, a saber, 1927 e Villa Anna.

As referências (1) à 1927 registra a data da construção do prédio; (2) à Villa pode ser interpretada como havendo sido atribuída em razão do grande número e da considerável extensão das dependências do imóvel, a saber: quintal, área de serviços com banheiro, três extensos salões na sua parte baixa, área de entrada, escadarias da parte da frente e da parte dos fundos, contendo cada uma delas três lances, destinadas ao acesso ao andar superior do prédio, que é constituído de varanda e de duas sacadas, de sala de entrada e de uma vastíssima sala, de sete quartos, corredor, cozinha, copa e banheiro; a referência (3) à Anna, uma homenagem a virtuosa esposa, D. Anna.

A parte baixa do prédio é servida por um largo portão de ferro, contendo duas bandas, colocado na parte da frente e de acesso ao quintal, à área de serviço, ao salão dos fundos e ao andar superior do prédio. É servida, ainda, por quatro portas de aço, guarnecendo o acesso aos dois salões da parte da frente, tendo aos lados e aos fundos, quatro portas e cinco janelões.

No início do ano de 1946, o imóvel foi alienado pelos membros da família Freitas ao senhor Antônio Ventura Coimbra Lopes, proprietário rural, político militante, ex-Vereador e ex-Prefeito do Município de Santo Antônio de Pádua - RJ, Presidente da Campanha Separatista – que emancipou Miracema, política e administrativamente, do Município de Pádua –, primeiro Presidente da Câmara Municipal de Miracema e Vereador em várias legislaturas, um dos fundadores, no Estado do Rio de Janeiro e no Município, da União Democrática Nacional – UDN, partido político presidido por ele, na seção de Miracema, desde a sua fundação até o Ato Institucional Revolucionário baixado no ano de 1964, que extinguiu todas as agremiações políticas e partidárias então existentes no País, que teve como seu Presidente de Honra, até a morte, o ilustre miracemense Cel. Pedro da Silva Bastos.

A parte superior do imóvel, até a morte do casal Ventura Lopes, era destinada à residência da família, composta de sete filhos, genros, nora e netos, aumentada pelos parentes jovens, descendentes de famílias não residentes em Miracema, que vinham estudar no antigo Colégio Miracemense. Também residiu com a família no imóvel, onde viveu até o seu falecimento, ocorrido aos cento e cinco anos de idade, a venerável ancestral D. Maria da Glória Monteiro Ribeiro, viúva do Major Felisberto Monteiro Ribeiro da Silva.
 
Além dos membros da família, já nomeados, o casal Ventura Lopes hospedava no imóvel, com freqüência, outros parentes, amigos, visitantes, membros de embaixadas que aqui chegavam em caravanas estudantis, autoridades do Poder Judiciário e políticos de expressão nacional, inclusive um Governador do Estado do Rio de Janeiro no exercício do cargo, durante meia semana.


Dentre os políticos e homens públicos de nomeada, hospedados por Ventura Lopes no prédio, pode-se citar o Brigadeiro Eduardo Gomes, quando em campanha, em 1950, como candidato à Presidência da República pela UDN – foi integrante do Movimento Tenentista ocorrido na década de 1920, e um dos poucos sobreviventes da histórica Revolta do Forte de Copacabana, ocorrida na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1922, além de Ministro da Aeronáutica; o General e então Governador do Estado do Rio de Janeiro, Edmundo de Macedo Soares e Silva; o jurista José Eduardo do Prado Kelly, durante campanha como candidato da UDN ao Governo do Estado, depois Ministro da Justiça e do Supremo Tribunal Federal; o então deputado federal Carlos Lacerda, posteriormente Governador do ex-Estado da Guanabara; os deputados Ewaldo Saramago Pinheiro, Tenório Cavalcante e outros; o Presidente Jânio da Silva Quadros com a esposa e a filha, na campanha à Presidência da República pela UDN.

A parte baixa do prédio foi ocupada, em momentos diferentes, pela sede da UDN, pela Legião Brasileira de Assistência, pela Coletoria Federal, pela Oficina de Consertos de José do Rádio, pelo Bar do Nelson, pela Quitanda do João Pestana, pela Loja do Demétrio Damasceno, pelo escritório dos advogados Jader Barros Eiras e Roberto Monteiro Ribeiro Coimbra Lopes.

O salão dos fundos era destinado ao encontro dos filhos com os amigos e colegas, em cujo ambiente saudavelmente conversavam, contavam piadas e histórias, planejavam a realização das peladas na Quadra do Rink, nos campos do antigo Colégio Miracemense e do América, os banhos no Ribeirão Santo Antônio acima da Usina Santa Rosa, enquanto disputavam partidas nas duas sinuquinhas de bolas de gude, ganhas nos jogos de búlicas disputados no jardim, onde pulavam “Carniça” e se guerreavam com as frutas amareladas caídas das árvores existentes na via pública que liga a rua Direita à rua das Flores.

Durante a vida de Ventura Lopes o prédio foi reformado várias vezes e, salvo pequenas alterações, manteve sempre a sua originalidade.

A sala maior da residência, pela sua considerável extensão, dotada de uma mesa com muitos assentos, além de usada para as refeições dos membros da família e pelos demais comensais, que nunca eram poucos, foi palco de inúmeras reuniões da UDN, de despachos do Governador Edmundo Macedo com os seus secretários de Estado, foi palco da preparação de cédulas eleitorais fornecidas pelos partidos políticos para serem utilizadas nas votações levadas a efeito nos pleitos federais, estaduais e municipais para a eleição dos candidatos à Presidência da República, ao governo do Estado, ao Senado, à Câmara Federal, à Assembléia Legislativa Estadual, a Prefeito e a Vereadores. Foi palco, enfim, de inúmeros outros encontros de natureza institucional.

"Quando, em 1975, o corpo de Ventura Lopes se achava exposto no velório, realizado na sala maior, ouviu-se no seu interior, a manifestação de um cidadão do povo, que afirmava que “homens como Ventura Lopes somente eram nascidos de cem em cem anos”, mesmo porque a residência da família sempre esteve franqueada aos homens do povo, a exemplo das relações mantidas com os empregados e os numerosos membros das mais de cem famílias que compunham a colônia da Fazenda Santa Inês.

De tudo que vi, ouvi e tive oportunidade de participar como filho, na infância, na juventude, na mocidade, posso afirmar, sem falsa modéstia, que o imóvel da Praça D. Ermelinda, nº 17, antigo 2/2 -A, foi centro de encontros sempre voltados, com a maior seriedade, para promover as instituições, para buscar meios destinados à correção de injustiças cometidas contra membros da cidadania, de encontros para planejar as práticas do progresso e do desenvolvimento de Miracema.

Pouco antes de sua morte, Ventura Lopes recebeu casualmente em sua residência, chegados em momentos diferentes, as visitas do Professor Alberto Lontra, do Dr. Lafayete Medeiros, do Dr. Amílcar Perlingeiro e do Dr. Adumon Duarte Monteiro, quando estava reunido comigo e com o seu sobrinho José Homem Ventura. Exceção feita a mim e ao Dr. Adumon, eram todos octogenários. Pelo muito que realizaram, a vida desses cidadãos, guardadas as devidas proporções, pode ser comparada com a dos feitos históricos dos chamados “Varões de Plutarco”.

Foi um encontro delicioso, cuja lembrança ficou perpetuada em nossa memória, não só pelo que sei do quanto representaram para a Pátria, particularmente para Miracema, mas, sobretudo, pela leveza da conversa e das idéias, pela evocação de lutas e feitos passados, que promoveram o progresso e o
desenvolvimento da Região Noroeste Fluminense, para honra e glória da terra de D. Ermelinda Pereira.

Eis, enfim, o somatório dos acontecimentos testemunhados por mim, durante quase trinta anos, ocorridos no prédio nº 17, antigo nº 2/2-A, da praça D. Ermelinda, que leva o nome daquela que foi a mãe dadivosa da Terra – MIRACEMA."

Roberto Monteiro Ribeiro Coimbra Lopes

Fontes:

http://miracemarj.blogspot.com/2008/07/solar-ventura-lopes-i.html
http://miracemarj.blogspot.com/2008/07/solar-ventura-lopes-ii-roberto-ventura.html
http://miracemarj.blogspot.com/2008/07/solar-ventura-lopes-iii-roberto-ventura.html
http://miracemarj.blogspot.com.br/2008/07/solar-ventura-lopes-iv-roberto-ventura.html

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